terça-feira, 18 de julho de 2017


Jesus é a Palavra

Vivemos a civilização do domínio da imagem. Já dizia Napoleão Bonaparte “Um bom desenho vale mais do que um longo discurso”, e Confúcio “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Mesmo assim a imagem não é capaz de transmitir uma experiência espiritual ou revelar o que está no interior do ser humano. E mesmo não transmitindo nada além das aparências, tem o domínio da realidade porque consegue captar o exterior, o que é visível. A grande tentação do nosso tempo é confundir essa realidade trazida pela imagem com a verdade trazida pela palavra. A ascensão da imagem se deu por conta da decadência da palavra, pois quando expressa a realidade não se obriga a ser portadora da verdade. A palavra por sua vez perde na competição com a imagem. O mundo da imagem visual e virtual é ilusório, nos seduz e paralisa. Somos cercados por fotos, filmes, internet, cartazes, ilustrações e outros tantos meios. A produção e difusão da imagem através da tecnologia tornou-se magnífica ao longo dos anos e, também, irreversível, mas talvez ainda seja possível uma reconciliação entre a imagem e a palavra. Precisamos resgatar a função da palavra na civilização. Shimon Peres, estadista israelense e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1994, disse “O verdadeiro mundo é o mundo das palavras”.
O cinema, a internet e a televisão, dentre outros, são esquemas que nos prendem à imagem, e se tornam ídolos aos quais nos prostramos e dispendemos boa parte do nosso tempo. No período bizantino houve uma doutrina denominada iconoclasmo, que pregava a destruição dos ídolos e dos seus cultos; há um paralelo entre a civilização da imagem e a idolatria, e não não seria exagero para qualquer cristão convicto se tornar um iconoclasta e combater esses ídolos quando por eles for escravizado. A massificação produzida pela imagem torna as pessoas e a sociedade indiferentes à verdade.
No judaísmo e no cristianismo Deus se revela pela palavra e não pela imagem. Na Bíblia, as epifanias são muito raras. O segundo mandamento dado a Moisés proíbe qualquer tipo de imagem “Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra” (Êxodo 20:4). Quando Moisés pediu a Deus que lhe mostrasse a Sua glória, o Criador respondeu “Você não poderá ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo” (Êxodo 33:20). Deus entra na história do homem pela revelação da palavra e não pela imagem.

Jesus é a Palavra de Deus

Nos três primeiros versos do capítulo um do evangelho de João, lemos: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (João 1:1-3). Jesus é o Deus Criador de todas as coisas, e as criou pela Sua Palavra. O evangelista usa a mesma expressão “no princípio”, de Gênesis 1:1; nas duas o agente é a Palavra de Deus, o logos no original grego, que foi traduzido como palavra ou verbo. Logos para a filosofia grega significava o princípio de razão que dá forma ao mundo material e constitui a alma racional no ser humano. Entretanto, João não utiliza esse conceito da filosofia grega, mas busca no Antigo Testamento a ideia de Deus se expressando; a expressão pessoal de Deus através da Palavra; a Palavra em ação. A Palavra de Deus é distinta de Deus, mas tem relação pessoal muito íntima com Deus; participa da natureza de Deus porque a Palavra é Deus, é a essência de Deus. A Palavra de Deus não é mera expressão intelectual de uma realidade, mas é a própria realidade. Não é razão, mas acontecimento, fato. Tem sua importância não pelos vocábulos ou códigos que utiliza, mas porque é a Palavra de Deus. A Reforma, que comemora 500 anos em 2017, redescobriu a importância da Palavra de Deus, mas se perdeu em conceitos e discursos. A Palavra de Deus é muito mais que discurso ou pregação, é ato de Deus; é Deus em ação, é Deus falando. A revelação de Deus é um fato que se dá através da Palavra.
É através da Palavra que o homem conhece a Deus, conhece a si mesmo, descobre a natureza, a criação e a história, a ordem e a desordem do universo e, também, qual o propósito do Criador em todas as coisas criadas. A Palavra de Deus não é estática, mas dinâmica; logos na sabedora grega é um elemento impessoal de uma verdade eterna, e na revelação bíblica logos é poder, energia e vida. A Palavra é viva, não torna a Deus sem resultado: “... a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei” (Isaías 55:11)

Jesus, a Palavra que se fez carne

“Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14). Jesus é a Palavra desde o princípio, estava com Deus Pai e era Deus, conforme João 1:1. Ele é a própria Palavra, daí sua autoridade quando pregava e ensinava. Ele tem supremacia sobre toda verdade porque é Deus, e Suas palavras permanecerão para sempre.
O ministério da Palavra foi confiado à Igreja de Jesus Cristo; a pregação e o ensinamento da Igreja não consistem tanto em lembrar e anunciar as palavras de Jesus, mas em anunciar o próprio Jesus que é a Palavra. A pregação da Palavra de Deus não é um discurso persuasivo de sabedoria, conforme disse Paulo, apóstolo: “Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (I Coríntios 2:4 e 5). A lógica pode ter argumentos irrefutáveis, mas não convence o homem pecador; é preciso o poder do Espírito Santo de Deus.  
Jesus é a conjunção da Imagem e da Palavra de Deus. “Ele é a imagem do Deus invisível...” (Colossenses 1:15). Todo aquele que olhar, ouvir e crer em Jesus Cristo, será salvo.
Jesus Cristo é a Palavra de Deus.

A Deus toda glória!

JSF


Citações da Bíblia Nova Versão Internacional.