quarta-feira, 28 de agosto de 2019


A INDESTRUTÍVEL PALAVRA DE DEUS

François Marie Arouet, pensador francês (1694-1778), mais conhecido como Voltaire protagonizou o Iluminismo, movimento intelectual e filosófico que dominou a Europa no século XVIII. Voltaire, além de rico, influente, uma celebridade na época, foi crítico acirrado do Cristianismo. Escreveu muitas obras entre poemas, romances, peças de teatro, ensaios e outros. Afirmou que a Bíblia e a religião não seriam mais aceitas no prazo de cem anos, ironicamente um século após ter dito isso a Sociedade Bíblica de Genebra comprou a editora e a casa onde morou, iniciando ali um depósito e a impressão de Bíblias. A afirmação de Voltaire de que a evolução da ciência tornaria a Bíblia um livro esquecido não se cumpriu, pelo contrário seus livros estão nas prateleiras de muitas bibliotecas esperando para serem lidos, enquanto a Bíblia está sendo lida por milhões de pessoas no mundo inteiro. A Palavra de Deus sempre sofreu ataques e críticas dentro e fora do Cristianismo, sejam de intelectuais liberais, da mídia, de acadêmicos e de pessoas comuns. Hoje os críticos acadêmicos, na maioria teólogos e estudantes de teologia e religião confrontam a Palavra de Deus sob o disfarce de jargões piedosos, tradições religiosas e suposta espiritualidade.
O método histórico-crítico de estudo da Bíblia, desde o século XIX, tem contribuído para a rejeição de sua origem divina e da sua autoridade sobrenatural. Até certo ponto ajuda no seu entendimento, mas a torna como um “objeto de estudo” sem nenhuma base de fé, e os estragos estão por aí: rejeição dos aspectos sobrenaturais, relatos são considerados ficção, o nascimento virginal de Jesus e seus milagres são reinterpretados como simbólicos ou figurados, Sua ressurreição não é considerada histórica e relevante para os dias de hoje. E o pior é saber que emergem do meio acadêmico influenciando a igreja e destruindo a fé de muitos. Alguns desses venenos acadêmicos foram muito bem descritos por Michael Kotch no seu artigo ‘Crítica Bíblica Disfarçada’ publicado pela Revista Chamada da Meia-Noite.

1º - DESPREZO PELA BÍBLIA COMO A PALAVRA DE DEUS

“A Bíblia é importante, mas é excessivamente trabalhoso ocupar-se com ela.”

Em 2017 a Sociedade Bíblica do Brasil produziu 7.949.000 exemplares entre Bíblias e Novos Testamentos e tem como meta até 2020 ultrapassar 10.000.000 de exemplares. Hoje, no mundo, aproximadamente 5,5 bilhões de pessoas tem acesso à Bíblia completa em seus idiomas. Estima-se que apenas 300.000.000 de pessoas não tem acesso às Escrituras, sejam Bíblias, Novos Testamentos ou porções bíblicas. Nunca foi tão fácil obtermos traduções bíblicas de alta qualidade, Bíblias de Estudo, em áudio, e através de aplicativos na internet. Apesar dessa facilidade toda hoje se lê menos a Bíblia do que em séculos anteriores. Todo cristão considera a Bíblia o livro mais importante, porém consome mais tempo na internet ou assistindo filmes do que lendo e estudando a Palavra de Deus. Em 2011 a revista americana Christianity Today concluiu que 22% dos cristãos evangélicos conservadores nunca leem a Bíblia, 50% de vez em quando, e menos de 25% a leem regularmente. Nova pesquisa em 2017 confirmou essa tendência. 
 
2º - JESUS VERSUS PAULO 

“Esta afirmação só encontramos em Paulo, mas eu não creio em Paulo, creio em Jesus.”

Pode ser modismo o fato de muitos cristãos hoje demonstrarem uma simpatia especial pelas palavras de Jesus desprezando os demais apóstolos, principalmente o apóstolo Paulo. Os Red-letter Christians (Cristãos das letras vermelhas) usam Bíblias nas quais as palavras de Jesus aparecem em vermelho. Para esses apenas as palavras de Jesus têm validade e não a dos demais autores bíblicos. Os pais da igreja já repudiavam essa prática contrária à inspiração da Bíblia.  As instruções de como deve ser a vida cristã e de como a igreja deve proceder são encontradas nas cartas de Paulo e nos discursos de Jesus nos evangelhos. Não existe confronto entre Jesus e Paulo, apenas complementação. Tudo isso são manobras para contornar as declarações incômodas do Novo Testamento sobre homossexualidade, submissão da mulher, vida conjugal, e outros assuntos.

3º - ESPÍRITO CONTRA ESCRITURA

“Deus conduz seus filhos de forma individual e pessoal. É perigoso limitar Deus às declarações da Bíblia.”

Há uma interpretação equivocada das palavras de Paulo em II Coríntios 3:6, onde se lê que “a letra mata, mas o espírito vivifica.” O apóstolo está se referindo aos métodos de tratamento divino através da lei e do Espírito Santo. Hoje muitas declarações bíblicas são ignoradas e se espera receber instruções diretamente dos céus. São falsas manifestações do Espírito Santo que destoam da Palavra de Deus: profecias especulativas, revelações e interpretações particulares, e outras aberrações que se contrapõem à Palavra por exemplo, um casal cristão se separa e ambos se sentem conduzidos a contraírem novas núpcias, mesmo sabendo que a Bíblia não apoia o divórcio e o novo casamento. A base para todas as nossas decisões deve ser as Escrituras.

4º - O PODER DO SISTEMA TEOLÓGICO E DOUTRINÁRIO

“Por sabermos que Deus ensina a predestinação, o livre-arbítrio, temos de interpretar esta passagem bíblica de outra forma.”

A teologia bíblica, a teologia sistemática, o método histórico-crítico, ou qualquer outro método de estudo das Escrituras nos auxiliam em sua compreensão, entretanto todos eles foram construídos pela mente humana. Na verdade, se precisássemos de um sistema teológico Deus nos teria dado um. É bom seguirmos uma linha teológica ou doutrinária, mas é perigoso desprezarmos aqueles que não compartilham do nosso sistema. Afirmações como: “Os adventistas do sétimo dia são uma seita”, “Os católicos que não se converterem vão pro inferno”, jamais deveriam ser ditas. A Palavra de Deus não cabe dentro de um sistema teológico, e muitos querem colocá-la no mesmo nível. A Bíblia contém tudo o que precisamos saber para a nossa fé, e o que não foi revelado não se deve especular.

5º - PAIXÃO PELA CIÊNCIA

“É verdade que a Bíblia proíbe este procedimento, mas diante dos conhecimentos da moderna pedagogia, psicologia, arqueologia etc., precisamos hoje adotar outros critérios para isso.”

Desde o Iluminismo até hoje cada vez mais pessoas consideram a ciência como garantia de conhecimento objetivo e seguro. Contesta-se a Bíblia porque suas afirmações nem sempre são conciliáveis com os conhecimentos do momento sobre arqueologia, biologia, história e outros ramos do saber. Daí muitos cristãos ficarem em dúvida se confiam na ciência ou na Palavra de Deus. A psicologia e a psicoterapia científica consideram que a possessão demoníaca é mais um erro de diagnóstico ou se deve a circunstâncias existenciais; a disciplina física de crianças é rejeitada porque a pedagogia moderna diz outra coisa. Muitos abrem mão da veracidade da Bíblia para aceitarem o que a ciência afirma naquele momento. A teoria do conhecimento sustenta que a ciência nunca consegue formular verdades absolutas, e a história da ciência demonstra que dificilmente uma verdade de qualquer ciência que tenha discordado da Bíblia, se manteve por muito tempo.

6º - O FATOR CULTURAL

“Na cultura da Antiguidade, esse procedimento tinha um importante significado. Como, no entanto, vivemos hoje em uma cultura diferente, esse costume se tornou incompreensível. Não estamos mais sujeitos a ele. Eventualmente, porém, deveríamos observar o princípio subjacente.” 

Existe uma tendência entre teólogos, pregadores e professores da Bíblia em fazerem longas explicações detalhadas da época bíblica, dos povos bíblicos etc., com a intenção de inverter alguma declaração bíblica. Os detalhes são necessários para uma melhor compreensão do texto, mas não se pode deturpar o sentido de uma declaração bíblica, porque cada declaração está dentro de um contexto histórico-cultural, e a maioria dessas constatações não tem nada a ver com a validade da declaração para aquela época. Deus fala ao homem por meio da Sua Palavra e isso vale para todas as épocas. A Bíblia é atemporal, ou seja, não depende do tempo, e transcende a tudo. “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre.” (Salmo 119:160) A ceia, por exemplo, é uma reinterpretação da Páscoa judaica; no contexto religioso-cultural do judaísmo o simbolismo do vinho e do pão como carne e sangue de um animal sacrificado era conhecido de todos, não faz sentido abolirmos a ceia porque esses costumes judaicos não são conhecidos em nossa sociedade. Os dez mandamentos foram dados em uma situação histórico-cultural específica, mas isso não influi na validade permanente dos mandamentos para todas as épocas.

Percebemos então que todos os sistemas de teologia e métodos de estudo bíblico nos auxiliam a entender a Palavra de Deus, mas devemos rejeitar uma interpretação da Bíblia segundo o espírito e conveniência da época atual. Nem sempre a Palavra de Deus vai corresponder ao pensamento e gosto do que está em moda no momento. Devemos nos afastar de todas essas formas de crítica velada e deturpação das Escrituras Sagradas. Se não discernirmos esses venenos e aberrações nossa confiança em Deus e na Sua Palavra será destruída. 

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça.” (II Timóteo 3:16)

“Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos.” (II Timóteo 4:3)

“E se recusarão dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” (II Timóteo 4:4)

A Deus toda a glória!

JSF

Citações da Bíblia Tradução de Almeida Revista e Atualizada - SBB