segunda-feira, 31 de maio de 2021

 


O DISCÍPULO DE CRISTO

Tornar-se discípulo de Jesus Cristo é o mais importante e desafiador compromisso pessoal que alguém pode ter durante a vida e que será, também, o aspecto mais visível da sua espiritualidade. Daí a frase: “Seguir Jesus: O mais fascinante projeto de vida.”(1) O convite para segui-lo é universal e atemporal “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração; e vocês acharão descanso para a sua alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)

Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo alemão, participou da resistência alemã ao nazismo durante o período da Segunda Guerra nos anos de 1939 a 1945; fundou a Igreja Confessante, que se opôs ao nazismo; foi professor e reitor de seminário até ser este fechado pelos nazistas; e foi preso em 1943 por um ano e meio até ser enforcado em 9 de abril de 1945, algumas semanas antes do término da guerra. Os biógrafos de Bonhoeffer dizem que ele viveu uma vida totalmente em Cristo, pois considerava que a vida cristã é a vida no discipulado de Jesus. Pouco antes de sua morte escreveu “Tenho a impressão de que a minha vida – por mais estranho que isso pareça – transcorreu de maneira totalmente coerente e sem rupturas, ao menos no tocante à maneira exterior de como a conduzi. Foi um enriquecimento ininterrupto da minha experiência, pelo qual realmente só posso ser grato. Se meu estado atual fosse a conclusão da minha vida, então isso teria um sentido que eu acreditaria entender.”(2)

Muitos livros foram escritos sobre o tema discipulado cristão: O Discípulo(3), Discipulado na Igreja Local(4), Discipulado(5) e tantos outros, todos eles interessantes e sugestivos por apresentarem princípios e métodos para o discipulado baseados na Palavra de Deus, entretanto nenhum deles esgota todas as implicações bíblicas do verdadeiro discipulado. Não pretendo fazê-lo também, mas vou discorrer sobre quatro implicações inerentes ao discipulado: atender ao chamado, identificando quem nos chama; seguir ao que nos chamou; amar ao que nos chamou e viver com aquele que nos chamou. Bonhoeffer afirmava que o discipulado é um compromisso radical de obediência a Jesus Cristo, mesmo que isso significasse a morte, não apenas da velha natureza, mas do próprio discípulo; denunciou “a graça barata” quando disse "a graça sem discipulado, é a graça sem cruz, é a graça sem Jesus Cristo vivo e encarnado”(6), uma graça que oferece perdão sem arrependimento, comunhão sem confissão de pecados e discipulado sem cruz. Uma graça que não implica em obediência e submissão a Cristo.   

Ricardo Barbosa de Souza, pastor presbiteriano, descreveu que muitos cristãos do século XXI possuem uma fé secularizada, uma moral relativizada, uma ética minimalista e uma espiritualidade privada e narcisista, as quais caracterizam uma graça barata resultante de um cristianismo medíocre e que não expressa a nobreza do reino de Deus.(7)

Quando Jesus diz “Venham a mim”, a aceitação desse convite significa crer nele. Os religiosos fariseus do seu tempo diziam  façam e obrigavam o povo a seguirem Moisés e as tradições, mas a salvação só podia ser encontrada em Jesus. O povo estava cansado e sobrecarregado de religião legalista e imposições humanas. “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim” se trata de uma experiência mais profunda. Em Cristo encontramos descanso – o descanso da entrega e da obediência e recebemos paz – a paz de Deus. Naquele tempo a expressão tomar o jugo significava tornar-se um discípulo. Jesus disse “o meu jugo é suave“, do tamanho certo para cada um dos seus seguidores; “aprendam de mim”, a  aproximação de Cristo e a entrega a ele é um momento crítico do ponto de vista da nossa redenção, mas é o início de um processo que leva a vida toda para ser consumado, e à medida que aprendemos dele encontramos uma paz profunda e passamos a confiar nele mais e mais. O convite de Cristo é atemporal – para todos em todas as épocas. 

A resposta ao chamado de Jesus não é uma confissão oral da fé, mas um ato de obediência. Não existe uma explicação racional do ponto de vista humano para atender ao seu chamado e segui-lo, a única explicação é que o próprio Cristo nos chama. Por ser ele o Cristo, o ungido de Deus, isso lhe dá poder e autoridade para chamar e exigir obediência ao seu chamado. Ele chama ao discipulado porque é o Filho de Deus, condição maior que mestre. Devemos nos tornar seus discípulos não apenas para cumprirmos um projeto de vida cristã, mas porque se não o atendermos não seremos seus discípulos.

QUATRO CONDIÇÕES PARA SER DISCÍPULO DE CRISTO

1 – Atender ao chamado, identificando quem nos chama.

Vejamos o chamado de Pedro: “Caminhando junto ao mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André. Eles lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Jesus lhes disse:  Venham comigo, e eu os farei pescadores de gente. Então eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram.” (Mateus 4:18-20) Pedro talvez tivesse sido um discípulo de João Batista e foi levado a Jesus por seu irmão André. Primeiramente foi chamado para ser um discípulo, depois para participar da missão de Jesus e mais tarde para ser um apóstolo e pastor. Pedro conhecia Jesus de ouvir falar, mas quando este o chama, atende prontamente. As circunstâncias do chamado para ser discípulo variam, mas aquele que nos chama é sempre o mesmo. O chamado de Cristo mudou radicalmente a vida de Pedro, de pescador de peixes para "pescador de gente"expressão que não foi inventada por Jesus, mas que era conhecida devido ao seu uso por filósofos gregos e romanos quando persuadiam seus ouvintes.

2  – Seguir aquele que nos chamou.

A resposta ao chamado de Jesus não é uma confissão oral da fé, mas um ato de obediência. Não existe uma explicação racional do ponto de vista humano para atender ao chamado de Jesus e segui-lo, a única explicação é o próprio Jesus Cristo - quem chama. Por Jesus ser o Cristo, ungido de Deus, isso lhe dá poder e autoridade para chamar e exigir obediência ao seu chamado. Jesus chama ao discipulado não por ser o mestre sábio e exemplo de vida, mas porque é o Cristo, o Filho de Deus. Devemos seguir a Jesus não por ser um desejável projeto de vida cristã, mas porque é ele quem chama e se não o atendermos não será possível seguir os seus passos. Ser discípulo de Jesus é sair do previsível para o imprevisível, da segurança para a insegurança, mas também é adentrar para o domínio das possibilidades infinitas.

3 – Amar aquele que nos chamou.

Jesus já havia morrido e ressuscitado quando Pedro e os demais discípulos decidem retornar à antiga condição de pescadores. O lugar é o mesmo - mar da Galileia “Depois disso, Jesus se manifestou outra vez aos discípulos junto ao mar de Tiberíades (mar da Galileia).” (João 21:1) Ali Jesus opera um milagre, pois eles haviam passado a noite inteira sem apanharem peixes e sob as ordens do mestre lançam a rede novamente; depois o mestre come com eles e pergunta a Pedro, por três vezes, se ele ainda o ama (João 21:15-17); aí se dá o segundo chamado de Pedro. O Senhor nos chama mais de uma vez se for preciso. A obediência ao seu chamado acontece em uma relação de amor entre o discípulo e seu mestre. Nas duas primeiras perguntas de Jesus a Pedro a palavra grega usada no texto original é ágape, o tipo mais elevado de amor - amor sacrificial e divino; Pedro responde com phileo - amor de um amigo para outro, afeição.

4 – Viver com aquele que nos chamou.

Pedro se tornou um dos principais apóstolos e viveu por Cristo até sua morte martirizada. Diz a história que morreu no mesmo ano em que Paulo foi decapitado e, segundo a tradição, Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Paulo escreveu “Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Romanos 14;7 e 8) e ainda “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Filipenses 1:21)

O verdadeiro discípulo de Jesus Cristo atende ao seu chamado, o segue, o ama mais do que tudo e todos, e vive com ele e por ele até a morte.

A Deus toda a glória!

JSF


 Citações da Bíblia Nova Almeida Atualizada – Sociedade Bíblica do Brasil

 Citações: 1- Seguir Jesus: O Mais Fascinante Projeto de Vida, Caio Fábio, Vinde Comunicações; 2- Filme: Bonhoeffer – O Agente da Graça; 3- O Discípulo, Juan Carlos Ortiz, Editora Betânia; 4- Discipulado na Igreja Local, Randy Pope, Editora Ultimato; 5 e 6 – Discipulado, Dietrich Bonhoeffer, Editora Mundo Cristão; 7 - Ricardo Barbosa de Souza, Revista Ultimato 320.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

 

TRIUNFANDO SOBRE A MORTE

 

Nenhum ser humano resiste à morte, que é certeira e inevitável. Alguns evitam falar sobre a morte por considerarem assunto indesejável, e outros ao ouvir a palavra morte dizem "Vira essa boca pra lá." Minha avó Ignez repetia sempre um antigo provérbio português “Cuidar da vida que a morte é certa.” Falar da morte não é assunto agradável, mas faz parte da história de cada um. As estatísticas afirmam morrerem mais de cem pessoas por minuto no mundo, chegando a mais de cinquenta milhões por ano. A primeira vez que senti a crueldade e a dor causadas pela morte foi quando perdi meu avô Francisco vítima de atropelamento, isso aos onze anos de idade. A palavra morte aparece 311 vezes na Bíblia, sem contar as variantes mortandade, morticínio, ou mesmo o verbo morrer. A morte é a maior evidência da queda do homem, e veio como consequência da sua desobediência ao Criador, que dissera a Adão: "De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá." (Gênesis 2:17) Paulo, apóstolo, afirma que a morte entrou no mundo pelo pecado "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, porque todos pecaram." (Romanos 5:12) A Bíblia distingue três tipos de morte: física, espiritual e segunda morte.

A MORTE FÍSICA

"Porque o salário do pecado é a morte." (Romanos 6:23)

A Morte física afeta apenas o corpo. O pastor e teólogo Walter Brunelli afirma que "A morte física é a ruptura do equilíbrio biológico-físico-químico, indispensável à manifestação da vida.” (1) A morte física termina na ressurreição do corpo.

A MORTE ESPIRITUAL

"Ele (Cristo) lhes deu vida, quando vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados." (Efésios 2:1)

O renomado teólogo A.H. Strong escreveu que a morte espiritual é "A perda da semelhança moral com Deus [...]; a depravação da natureza moral e religiosa do homem (o declínio do seu intelecto, a corrupção dos seus sentimentos e a escravização da sua vontade)." (2) A morte espiritual é a separação do homem e Deus por causa do pecado; significa culpa pelo pecado e corrupção (O pecado é uma influência corruptora na vida. Somos impuros em pensamentos, palavras e ações).

A SEGUNDA MORTE (MORTE ETERNA)

“Então a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado no lago de fogo." (Apocalipse 20:14 e 15)

É chamada segunda morte porque vem depois da primeira - a morte física. Os salvos em Cristo não sofrerão a segunda morte por causa da ressurreição e do arrebatamento, mas os não salvos irão passar pela segunda morte - a separação definitiva de Deus.

Paulo, apóstolo, esclarece que a obra redentora de Cristo, fruto da graça de Deus, destruiu a morte, trazendo vida e imortalidade. "Mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada agora pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus. Ele não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho." (II Timóteo 1:9 e 10) Jesus Cristo se revelou glorificado e triunfante a João, dizendo: "Não tenha medo. Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive. Estive morto, mas eis que estou vivo para todo o sempre e tenho as chaves da morte e do inferno." (Apocalipse 1:17 e18)  

A morte faz parte de nossas vidas neste mundo, milhares morrem todos os dias e milhões todos os anos, mas aqueles que estão em Cristo viverão com Ele eternamente. "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." (Apocalipse 21:4) Portanto, a morte é o último inimigo que Cristo irá destruir. 

Paulo, apóstolo, escrevendo aos crentes de Corinto disse: "Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, na sua ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim, quando ele entregar o Reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque é necessário que ele reine até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte." (I Coríntios 15:20-26) 

"Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem." (verso 20) Cristo foi o primeiro homem que ressuscitou com corpo glorificado, a ressurreição dos salvos será semelhante; "Visto que a morte veio por um homem, também  por um homem veio a ressurreição dos mortos." (verso 21) O pecado de Adão trouxe morte e corrupção para toda a raça humana, mas Cristo trouxe vida e ressurreição. A expressão "Em Adão, todos morrem" (verso 22) se refere à mortalidade da raça humana pelo parentesco que tem com o seu progenitor Adão; "Todos serão vivificados em Cristo." (verso 23)  Deus, o Pai, vivificou a Cristo, e na sua vinda todos os salvos serão vivificados; "E então virá o fim [...] Porque é necessário que ele reine até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés." (versos 24 e 25) O Fim entende-se a consumação de todas as coisas. Antes disso, Cristo vai reinar e subjugar tudo o que se opõe a Deus. Ele vai destruir todo domínio, autoridade e poder. É por isso que no mundo espiritual existe uma tremenda oposição à igreja e aos salvos. A nossa oração deve ser sempre "Venha o Teu reino" (Mateus 6:10); "O último inimigo a ser destruído é a morte." (verso 26) A morte será extinta e não tocará em mais ninguém. 

No livro "O Peregrino", de John Bunyan, os personagens Cristão e Esperança, no fim de suas jornadas vislumbram a cidade eterna – a Jerusalém celestial, e se deparam com um rio muito profundo e sem pontes para atravessá-lo. Então os anjos lhes dizem: se vocês não atravessarem o rio, não alcançarão as portas da cidade. Esse rio representa a morte, somente Enoque e Elias não precisaram atravessá-lo. No culto fúnebre da minha avó Amélia foi cantado seu hino predileto “Com Tua mão segura bem a minha”, e uma das estrofes do hino diz: "E se chegar à beira desse rio/Que Tu por mim quiseste atravessar/Com tua mão segura bem a minha/E sobre a morte eu hei de triunfar."

Essa é a grande esperança de todo aquele que crê e confessa Jesus Cristo. 

A Deus toda a glória!

JSF

1 – Brunelli, Teologia para Pentecostais, Vol.04, pg. 171; 2 – Strong, Teologia Sistemática, Vol. II, pg. 201

Citações da Bíblia Nova Almeida Atualizada - SBB